Nossa identidade

O Carmelo Descalço, iniciado por Santa Teresa como uma reforma espanhola da antiga Ordem do Carmo, já conta com uma longa e profunda história. Estendeu-se por todo o mundo, assumindo formas e estilos diversos. Tal diversidade presente na Ordem é uma riqueza, mas também um desafio, já que devemos nos comprometer com a fidelidade ao carisma.

Para uma Ordem religiosa, o carisma é um dom que Deus concede à Igreja através da experiência pessoal de um fundador. Trata-se sempre de um modo concreto de pôr o Evangelho em prática, segundo uma particular forma de vida. A continuidade do carisma depende do Espírito Santo que, mediante a ação e testemunho do fundador, atrai outras pessoas para participar do mesmo carisma e adaptar seus elementos fundamentais às diversas situações históricas e culturais nas quais se difunde.

A vida e experiência mística de Santa Teresa estão na base do carisma da Ordem. Para Santa Teresa, a resposta aos desejos e necessidades mais profundas do coração humano encontra-se dentro de nós mesmos, no “castelo interior” da alma, em nossa interioridade, que está habitada pelo próprio Deus. A incomparável grandeza da pessoa humana deriva do fato de ter sido criada por Deus e escolhida por ele como sua morada. A porta para entrar no “castelo interior” é a oração. E essa, segundo Santa Teresa, é relação de amizade com Deus. Ser carmelita descalço, portanto, é um modo de viver a identidade cristã, reconhecendo que a oração é fundamental para nossa vida com Deus e com o próximo.

A Regra do Carmelo recorda que a finalidade de toda forma de vida religiosa é viver em obséquio de Jesus Cristo. Santa Teresa de Jesus, partindo de sua história de vida carmelitana e da própria experiência pessoal de encontro com Cristo, traduz o obséquio de Jesus Cristo por amizade com o amado. A espiritualidade teresiana tem em seu centro a amizade. Deus é aquele que habita no castelo interior da pessoa humana e, a partir daí, do interior, faz ouvir sua voz, oferece seu amor e espera uma resposta de amor.

Nós, carmelitas descalços, temos a responsabilidade de mostrar à humanidade o tesouro que nos foi transmitido por Deus através de nossos santos. Todavia, para sermos capazes disso, nós mesmos devemos fazer uma experiência profunda da oração como meio privilegiado de configuração com Cristo. Uma experiência autêntica de Deus presente em nós impulsiona a reconhecer a presença de seu Espírito nas situações do mundo e nos chama a sair de nós mesmos para reconhecer os sinais de Deus na história.

A relação com Deus não é uma experiência ocasional, mas deve transformar-se em um estado permanente, como toda verdadeira relação de amizade ou de amor. Somos chamados à união de amor com Deus, que marca a vida interior em todas as suas dimensões e em todos os momentos. Em nossa tradição, que remete ao profeta Elias, fala-se com frequência de “viver na presença de Deus”. Essa expressão indica a meta para a qual tendemos: que nossa vida inteira se converta em oração, estando constantemente diante do rosto de Deus.

Os meios que usamos para levar adiante nossa forma de vida são: escuta da Palavra – “meditar dia e noite na lei do Senhor” –, oração litúrgica, oração mental, solidão, silêncio, exercício do desapego, organização da vida sob a obediência de um prior, fidelidade à Igreja, apostolado, missão e esforço para criar uma comunidade orante, tendo Cristo no centro de tudo e Maria Santíssima como modelo de fé e de oração. Através desses meios, dispomo-nos a chegar à união com Deus. 

Apostolado

O campo de ação dos frades carmelitas descalços é amplo. Cada frade deve trabalhar, segundo a graça que Deus lhe concedeu, pelo bem da Igreja, comprometendo-se com a obra de evangelização, sob a direção dos superiores.

A evangelização dos povos, fruto da caridade e da oração, foi sempre uma das obras prediletas da Ordem. Santa Teresa quis que seus filhos espirituais trabalhassem na atividade missionária. Assim, as obras missionárias estão entre as mais importantes de nossas atividades.

Diante da urgência da caridade e das necessidades da Igreja e conforme as circunstâncias dos lugares, assumimos o ministério paroquial como um serviço ao povo de Deus. Nosso trabalho paroquial deve desenvolver-se segundo nosso estilo de vida, procurando partilhar com os paroquianos a riqueza de nossa espiritualidade.

Em todos os trabalhos assumidos pelos religiosos em favor da Igreja, o melhor de nossas forças deve ser orientado para o exercício daquilo que é próprio da Ordem: a promoção da vida espiritual, segundo o magistério de nossos santos, através da orientação de retiros, cursos e publicações de livros e artigos de cunho teológico e espiritual.

Santa Teresa, ao renovar os frades carmelitas, quis que esses acompanhassem as carmelitas descalças, apoiando-as e ajudando-as a viver sua vocação contemplativa em favor da Igreja. Do mesmo modo, realizamos fraternalmente a tarefa de orientar os membros do Carmelo Secular e das famílias religiosas que compartilham conosco a vida e o espírito.

A espiritualidade carmelitana

A espiritualidade carmelitana é uma forma de sentir e viver o evangelho a partir de premissas que nascem da experiência dos grandes santos da família do Carmelo Descalço: Teresa de Jesus, João da Cruz, Teresa do Menino Jesus, Elisabeth da Trindade, Edith Stein, entre outros. São estas as premissas:

– A experiência de Deus e o desejo de comunhão com Ele.

– A experiência da salvação por Jesus Cristo, que transforma nossa vida.

– A fraternidade de uma comunidade teresiana como lugar de humanidade e experiência da presença de Deus.

– A contemplação do mundo a partir de Cristo crucificado e ressuscitado, presente e operante na história.

– A vida de oração como experiência da transcendência, do Deus revelado em Jesus Cristo.

– O ascetismo como desprendimento do supérfluo e disponibilidade em favor dos seres humanos.

– Atenção ao estudo, ao trabalho e à vida em fraternidade.