Frei Washington da Santa Face, OCD
Eliah ou Elias, cujo nome significa “o Senhor é o meu Deus”, é uma personagem emblemática que surge do nada a partir do livro bíblico de I Reis (17,1): não se sabe quem foram seus pais, como foi sua infância, sua vida, até vir à tona publicamente. Existiram no Reino de Israel, nos séculos IX e VIII a.C, grupos de profetas, e Elias teria sido uma de suas respeitáveis figuras. Após seu desaparecimento, tais profetas, influenciados por Elias, começaram a narrar seus feitos. As histórias do Profeta do fogo conservaram-se e difundiram-se, sobretudo, durante o Exílio. O povo estava sem esperança e se sentindo abandonado, e tais histórias ajudaram-no a entender o que ocorria devolvendo-lhe a esperança naquele momento difícil. Sabe-se muito pouco sobre a pessoa do profeta e a base das histórias a seu respeito está em alguma fonte que contém sua vida e obras, mas o redator final do Livro de Reis não quis utilizá-la, somente relatou o que ali está descrito, ao qual a exegese bíblica chama de ciclo de Elias (I Re 17 – II Re 2,14).
Elias manteve a religião israelita viva, e as duas características principais do Profeta são fidelidade e criatividade. Foi totalmente fiel às tradições religiosas e à aliança que Deus fez com seu povo. Foi criativo nas questões religiosas, tornando Adonai presente na vida do povo e combatendo a Baal – deus reverenciado pelas chuvas e a fertilidade da terra. Depois de Moisés, Abraão e Davi, Elias é a figura do Antigo Testamento mais mencionada no Novo Testamento. Para os judeus, até os dias atuais, o profeta é uma figura viva; para os mulçumanos, é reverenciado com respeito; para os cristãos, um exemplo ao chamado de fidelidade e criatividade frente aos desafios atuais; para os carmelitas, ele é pai e modelo.
O profeta Elias, pai e inspirador da Ordem do Carmelo, tem grande importância para esta. Ele é invocado como Santo Elias Profeta e é celebrado em seu calendário santoral no dia 20 de julho. Os Carmelitas têm sua origem no Oriente, mais exatamente no Monte Carmelo, ao lado da gruta de Elias, na Terra Santa. Ao redor dela, entregaram-se à oração e ao silêncio e passaram por muitas vicissitudes; contudo, permaneceram à sombra desse seu pai espiritual, força inspiradora e dinâmica do Carmelo. Quando os carmelitas deixaram o Monte Carmelo, no século XIII, indo à Europa, foram construídas várias histórias míticas em torno deles. Uma dessas é a de Felip Ribot do século XIV: “Carmelitas, lembrem-se e, de algum modo, revivam a experiência do Profeta. Ele se escondeu no deserto em tempos de aridez e enfrentou o desafio dos falsos profetas de um ídolo morto, incapaz de dar a vida. Ele voltou ao Monte Horeb pelo deserto, para encontrar o Senhor de maneiras novas e inesperadas e para compreender que Deus está presente mesmo onde parece estar ausente. Os carmelitas compartilham da sede de justiça de Elias e sabem que são, como Eliseu, herdeiros do manto que caiu do céu, do carro envolto em chamas” (CHALMERS, p. 11).
Elias é o modelo de vida para todos aqueles que se sentem chamados à oração e à intimidade com Deus, com transbordamento no amor ao próximo: “Vive Deus em cuja presença estou!” (I Re 17,1) e “Eu me consumo de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos” (I Re 19,10). Na última citação bíblica, Zelo zelatus sum pro Domino Deo Exercitum, está o lema do Carmelo; tal lema, presente em seu atual brasão, demonstra a íntima relação dos Carmelitas com o grande Profeta Elias.