Venerável Tereza Margarida do Coração de Maria

Venerável Tereza Margarida

Um coração seduzido por Jesus!

Um coração seduzido por Jesus! É o que descreve o coração de nossa querida Serva de Deus, irmã Tereza Margarida do Coração de Maria, porque como Jeremias que se sentia incapaz e pequeno para realizar as obras que Deus lhe pedia, ela não só pôde dizer com as palavras, mas sobretudo testemunhar com a vida: ‘Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir. Senti, então, dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem forças para suportar” (Jr. 20,7-9). Como foi e é o fogo do amor de Deus que impulsiona os discípulos a testemunharem que Jesus Cristo é o Senhor, irmã Tereza Margarida nada negou a Jesus, deu-lhe tudo, deu-Lhe a vida.

Como as vocações, os “eleitos” de Deus nascem e se fazem no seio de uma família, porque todos somos chamados à santidade, não foi diferente com a “Nossa Mãe”, carinhosamente chamada posteriormente. A serva de Deus nasceu no século Maria Luiza, no dia 24 de dezembro de 1915 na cidade da Borda da Mata, quinta filha de Francisco Marques da Costa Júnior e D. Mariana Resende Costa, que buscaram viver a vocação do matrimônio com fidelidade e generosidade, formando um lar com laços de sincero amor. Foi neste lar fecundo que Maria Luiza nasceu, porque seus pais tiveram a graça de acolherem 12 dons (filhos) vindos do Senhor, até mesmo seu segundo irmão, o primeiro dentre os homens, João, sentiu-se chamado por Deus para a vida sacerdotal, chegando anos depois a ser nomeado bispo e logo arcebispo de Belo Horizonte (1967).

O nascimento da Serva de Deus vem envolvido de providências do Céu, pois veio ao mundo na noite de Natal, dia Daquele que desde ali da simples manjedoura reverberava sua luz radiosa, alcançando e seduzindo o coração dessa menina; outra providência foi que a batizaram numa Igreja dedicada a Nossa Senhora do Carmo, “a 10 de fevereiro de 1916, dia consagrado no calendário litúrgico a Santa Escolástica, monja beneditina, irmã de São Bento” (COTTA, p. 10). Anos depois, seus pais, desejando que seus filhos estudassem e seguissem um rumo melhor na vida, resolvem se mudar de Borda da Mata para Cruzeiros -SP. Como uma faca de dois gumes a atingir o coração, como foi difícil para Maria Luiza pensar ter que deixar seus amigos, seus avós, seus cantos e encantos da cidade natal, mas seu pai foi esperto, foi criativo, motivando seus filhos com ideias de que a nova casa estava envolvida de belezas primaveris, de um grande jardim. Já na nova casa a meninada arteira não perdeu tempo, entre brincadeiras e descobertas, foram se adaptando. Mesmo entre as brincadeiras seu jeito arteiro e sensível (da Maria Luiza) ainda lhe faziam pensar na antiga casa e vida, até mesmo em seus estudos viram-se notar este estado de ânimo, tendo ela que repetir a primeira série; mais adiante, numa nova etapa de sua vida, suas irmãs mais velhas convencem seus pais a enviá-la para o Colégio Bom Conselho, onde ali, mesmo às custas e choradeiras, aprendeu o valor e o amor ao estudo, se dedicando cada vez mais, amadurecendo lentamente auxiliada com uma ótima formação cristã e pedagógica da época. Neste ambiente estudantil tornou-se filha de Maria, amando ainda mais a Mãe de Deus, São José e conhecendo num exemplar de cada a vida através da História de uma Alma de Sta. Teresinha, atuando também ardorosamente da Ação Católica de sua Paróquia.

Jesus não perde tempo! Quando Ele quer todo o coração de uma pessoa sempre arruma jeitos e trejeitos para conquistar aqueles e aquelas para viverem ainda mais próximos Dele; intimamente unidos numa amizade misteriosa. Assim foi com Maria Luiza aos pés do Santíssimo Sacramento numa de suas visitas com a família no Santuário Nacional de Aparecida, sentindo seus primeiros apelos para a vida religiosa. Mas como saber se isso vem de Deus? Numa Vigília Pascal de Cruzeiro sente de maneira mais clara, como a voz chamando Samuel durante a noite, mas mesmo assim ainda quer mais uma confirmação. Num ato um tanto peculiar, pensa em pegar diante de uma estante um livro que servisse de sinal, quando no ato da procura uma moça desconhecida lhe aparece e lhe convence pegar o livro sobre Memórias de Elisabeth da Trindade. Pronto! Ali estava a confirmação! Ali estava como uma abelha atraída pela doçura do néctar. Revela ao pai seu desejo de consagrar-se no Carmelo, mas no princípio seu pai nega, aceitando depois, entrando na clausura do Carmelo de Mogi das Cruzes (que viria ser transferido para uma nova sede, Carmelo de santa Teresinha em Aparecida), com seus 22 anos, no dia 28 de maio de 1937. Poderíamos perguntar: O que faz uma moça dotada de tantos dons se esconder numa clausura? O amor! A consciência de ser profundamente amada por Deus e querer devotar a Ele a única vida que tem, imolando-se numa constante oração aos Seus pés pela humanidade, pois a carmelita com a sua oração abraça o mundo e entrega-o para Deus.

Na nova vida de carmelita descalça não lhe faltaram sacrifícios, superações, aceitando-os todos num profundo espírito de fé e paciência. Acostumada com as atividades da Ação Católica, dos seus dotes para o piano, a nova vida exigiu-lhe humildade, tendo que trabalhar em serviços simples, como o de “desfiar sacos de estopa e enovelar fios para fazer as solas” das alpargatas de suas co-irmãs. O nome novo que lhe deram expressava a vida e missão que no Carmelo Teresiano e na Igreja assumiria, chamando-se então de Ir. Tereza Margarida do Coração de Maria, tendo como sua padroeira a filha de Arezzo-Itália, a Santa Teresa Margarida, que viveu uma vida simples, silenciosa, voltada à contemplação do amor do Coração de Jesus. Passados os anos de formação enfim chega a tão esperada profissão solene (votos perpétuos) que emite no dia 02 de fevereiro de 1942. Não saberia ela que mais tarde assumiria lugares de serviço como auxiliar de mestra de noviças e aos 30 anos sendo eleita sub-priora, tendo que receber de Roma autorização. E quando tudo parecia sossegar, mais uma vez o Senhor a surpreende com um novo pedido, como a Pedro, que sendo novo se cingia a si mesmo, mas quando velho, outros lhe cingiriam e lhe enviariam para onde ele não queria ir: chega-lhe o pedido de fundação de um novo Carmelo, o Carmelo de São José em Três Pontas – MG. Como mulher de fé e confiança em Deus, verdadeira filha de santa Teresa, uma vez decidida a empreitada disse: “Para São José, eu nada posso negar, porque Ele nunca me recusou nada”. E para lá foi e lá ficou com as suas irmãs fundadoras, semeando na terra fértil a semente do carisma carmelitano nessa nova casa, que não lhe pouparam esforços para fincar raízes profundas. Bendito seja Deus! No dia 22 de janeiro de 1969 a nova casa estava nos moldes para a vida conventual carmelitana.

De todo esse percurso o que podemos aprender com essa mulher de corpo frágil, mas de espírito forte? Que importância para o Carmelo e para a Igreja a vida e modelo da Serva de Deus Tereza Margarida, Nossa Mãe, nos deixou? É perceptível que na vida de Nossa Mãe se cumpriu aquelas palavras cantadas pela Virgem Maria em seu magnificat: “Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes”. Sim, como um amigo que não nega nada ao amigo, entregando-se livremente sem esperar recompensas, a vida de Nossa Mãe testemunhou a beleza da humildade, a beleza daqueles que vão, vendem tudo o que tem e O seguem, a beleza do testemunho de quem encontrou aquela pedra preciosa no terreno da vida e não guardou só para si, multiplicou, triplicou, transbordou vida por onde passou. E para o Carmelo? Ah! Resgatou mais uma vez aquela profundidade, aquele encanto da maternidade espiritual, que independentemente de quem fosse, ela estava ali, como a virgem prudente, com sua lâmpada da oração acesa, iluminando os passos de seus filhos nas sendas da vida, com um sorriso, com uma palavra, com o seu silêncio, com o seu jeito carinho e firme de ser. E por fim, que testemunho deixa para a Igreja e para o mundo? Nos corações onde reinam muitas vezes aquelas sequidões e vozes áridas, desnorteamentos e desuniões, o testemunho de vida da serva de Deus Tereza Margarida, Nossa Mãe, como boa monja carmelita e cristã que foi, vem trazer à tona aquele convite de Jesus – “Já não vos chamo servos, mas amigos”! -; sim, é a partir daí, dessa amizade sincera com Jesus através da oração, do trato amoroso, do trato amigável com Jesus que as trevas darão lugar à luz, que os embates sem fim darão lugar à comunhão, que os olhos ferozes darão lugar a novos olhares cheios de bondade e compaixão, mirando o irmão que sofre no meio do caminho, sensibilizando com ele, passando da dimensão do apenas ver, mas nutrido desde dentro dessa amizade com Jesus, olha, para, cura-lhe as feridas, toma-o em suas mãos e o leva para dentro, para dentro do coração, para dentro de um cuidado interior, para dentro de um ambiente de diálogo, de partilha, de cura. Porque como diz santa madre Teresa de Jesus para suas filhas e filhos: “Recordai-vos de que é necessário alguém que faça a comida do Senhor, e considerai-vos felizes por O servirdes como Marta. Vede que a verdadeira humildade reside em nossa disposição de nos contentar com aquilo que o Senhor quiser de nós e em nos considerar sempre indignas de ser tidas por servas Suas. Se contemplar, ter oração mental, ter oração vocal, curar os enfermos, servir nas coisas da casa e trabalhar – mesmo nas tarefas mais humildes – é servir ao Hóspede que vem ter conosco, ficando em nossa companhia, comendo conosco e conosco se recreando, que nos importa servi-Lo mais de uma maneira do que de outra?” (Caminho de Perfeição, 17, 6). É o testemunho de quem se deixou amar por Deus, se deixou transformar por Deus e numa explosão de amor não suportou, abraçou o “Ide” e foi para dentro, para o alto, para as águas profundas da misericórdia divina e por isso alcançou tantos corações que até hoje rezam: Nossa Mãe, Tereza Margarida, cuida de nós!

Com orações,

Fr. Luiz Maria de Santa Teresa de Jesus, ocd

Infunde Amórem Córdibus

Referências:

Livro: Testemunha do Deus Amor, Madre Tereza Margarida do Coração de Maria, “Nossa Mãe”, escrito por Augusta de Castro Cotta, CDP (Irmã Camélia).

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