A proclamação do ano dedicado a São José pelo Papa Francisco e a carta do Padre Geral do Carmelo Descalço, escrita em comunhão com o Superior Geral do Carmelo da antiga observância, têm despertado o desejo de conhecer melhor a presença deste Santo na Ordem Carmelitana. O Papa Bento XIV declarava: “foi o Carmelo a trazer do oriente para o ocidente o costume de honrar com soleníssimo culto o glorioso São José”. Na verdade desde sempre existiu um amor particular para com São José, o homem justo, escolhido por Deus para ser o esposo da Virgem Maria e o pai “putativo” de Jesus. Mas nem sempre teve um culto público, como nos nossos dias, ao ponto que o mesmo Papa Francisco quis inserir o seu nome nas preces eucarísticas e comemorar com a carta “Patris cordis” os 150 anos, desde que o Papa Leão XIII o proclamou Padroeiro universal da Igreja.
Quem cooperou para difundir de maneira maravilhosa e, ousaria dizer, única a devoção a São José foi Santa Teresa d’Ávila. É suficiente ler o capítulo VI do Livro da Vida (V 6-8) para tomar consciência do seu amor para este grande Santo. Teresa dedicou a São José 12 dos 17 mosteiros que ela fundou, e nas fundações sempre levava uma pequena estátua de São José, que hoje se conserva no mosteiro de São José, em Ávila. Ela mesma considera São José “como o fundador da Ordem”.
Mas, por que Teresa amou tanto São José e como descobriu este amor? Ela mesma nos conta que, estando muito doente e tendo tentado todos os caminhos da medicina, decidiu recorrer ao “celeste médico São José”, e ficou curada, e daí ela não só decidiu difundir este amor, mas a ele dedicar um culto todo especial. Teresa apresenta São José como intercessor, médico e mestre de oração.
“Se alguém quer aprender a rezar e não tiver ninguém que lhe ensine o caminho, tome como mestre o glorioso São José e em breve tempo chegará à oração! ” Mas como São José pode ser mestre de oração se dele não temos nem um ensinamento e nem uma palavra? Sabemos que para Santa Teresa a oração não “consiste em muito pensar, mas sim em muito amar”. Não são as palavras que nos fazem orantes, mas sim a nossa maneira de viver na busca incessante da vontade de Deus, em colocar a nossa vida ao serviço dos outros.
São características bem marcantes na vida e nos escritos teresianos. Sabemos que este amor a São José ela o infundiu seja nos frades como nas monjas. Uma das primeiras orações carmelitanas de São José “JOSEPHINA”, é obra do Padre Graciano, amigo, e filho espiritual predileto da mesma Santa Teresa, como foi ele que compôs as primeiras ladainhas de São José. Mesmo São João da Cruz não foi estranho a este influxo teresiano de amor a São José.
Teresa nos dirá que, se os Santos intercedem por uma ou outra necessidade, São José podemos invocar para todas as necessidades, e que é impossível pensar em Maria e Jesus sem pensar também em São José. Teresa confia a São José não somente os problemas espirituais, mas também os problemas econômicos e o considera o verdadeiro “provedor” dos seus mosteiros. Para Teresa e para o Carmelo, São José é o modelo da vida silenciosa, da disponibilidade em fazer a vontade de Deus, que se revela nos acontecimentos da vida. Deus sempre fala ao nosso coração e nos indica como devemos agir.
No Carmelo, depois do amor à Virgem Maria, temos um particular amor a São José e todos os dias fazemos memória dele nas nossas comunidades. Em todas as Igrejas carmelitanas sempre se encontra uma imagem de São José. O testemunho de Santa Teresa é eloquente: “nunca recorri a este Santo sem ser imediatamente atendida! ”
Que este ano dedicado a São José seja para todo o Carmelo, como nos recorda também o Padre Geral Saverio Cannistrà uma ocasião para redescobrir o sentido da nossa vocação religiosa como serviço a Deus, à Igreja e à Ordem!
Frei Patrício Sciadini, ocd.
Cairo, Egito, 01 de março de 2021.