Chuva de Rosas ou de Graças?

Santa Teresinha, com sua simplicidade e transparência, está sempre nos surpreendendo. Sua doutrina nunca perde sua atualidade e seu frescor, e tem sustentado a esperança de cristãos e não cristãos. A sua expressão “farei cair uma chuva de rosas” se tornou fonte de inspiração para poesias, músicas e varias manifestações artísticas. A princípio parece uma ideia bem romântica e lírica, mas se a aprofundamos, vemos como é exigente. Sim, para que a “chuva de rosas” caia em nossas vidas ou através de nossa vida, não basta cobrir de perfume nossos sonhos, é preciso escutar o que Teresinha nos diz a respeito, e colocar mãos à obra!

Eis como nossa Santa descreve sua inspiração primeira:

“Eis, meu Bem-Amado, como se consumará minha vida… Não tenho outros meios para te provar meu amor, a não ser lançar flores, isto é, não deixar escapar nenhum pequeno sacrifício, nenhum olhar, nenhuma palavra, aproveitar as menores coisas e fazê-las por amor… Quero sofrer e mesmo gozar por amor, dessa forma lançarei flores diante do teu trono, não encontrarei uma só sem desfolhá-la para Ti… e, ao jogar minhas flores, cantarei. Caberia chorar fazendo uma ação tão alegre? Cantarei, até mesmo quando for preciso colher minhas flores no meio dos espinhos e meu canto será mais melodioso na medida em que os espinhos forem longos e pungentes.

Em que minhas flores e meus cantos irão te servir, Jesus?… Ah! sei. Essa chuva perfumada, essas pétalas frágeis e sem valor, esses cantos de amor do menor dos corações te encantarão. Sim, esses nadas te agradarão, farão sorrir a Igreja triunfante que recolherá minhas flores desfolhadas por amor e, fazendo-as passar por tuas mãos divinas, ó Jesus, essa Igreja do Céu, querendo brincar com sua criança, lançará essas flores que, pelo teu toque divino, terão adquirido um valor infinito. Lançá-las-á sobre a Igreja padecente, a fim de apagar as chamas; lançá-las-á sobre a Igreja combatente, a fim de lhe propiciar a vitória!…”(Manuscrito B, 4v)

Às vezes me pergunto: como alguém pode considerar Santa Teresinha uma Santa “frágil”, fácil de ser seguida, com uma espiritualidade “água com açúcar”? Só quem nunca a conheceu de verdade pode se enganar a seu respeito. Suas palavras acima mencionadas, embora numa linguagem poética e simbólica, expressam um caráter resoluto e forte, uma determinação séria de não deixar nenhum sofrimento escapar de suas mãos, um desejo ardente de sofrer por amor e amar “até doer”. É uma atitude que espanta por sua força de intercessão. Santa Teresinha não buscou o sofrimento, mas o acolheu com amor, quando este bateu à sua porta.

Nestes tempos em que se foge da dor como o “diabo foge da cruz”, podemos aprender muito com Santa Teresinha. O sofrimento é algo inerente à vida humana, nem sempre podemos fugir dele. Mas podemos assumi-lo de uma  forma mais proveitosa quando o transformamos em atos de amor e de confiança em Deus, em “mercadoria de troca” pela salvação das pessoas.

Penso que temos duas formas de sofrer: abraçando o sofrimento e o transformando em graças sobre todos os que amamos, ou desprezando-o e não assumindo-o como instrumento de santificação, e vivendo as consequências de uma dor sem sentido. Teresinha optou por transformar sua dor em graças para todos. E estas graças estão atravessando as décadas e chegam até nós cada dia.

Que a “Santa das rosas” nos ensine a colher nossas rosas em meio aos espinhos, com alegria e fé. E quando nos sentirmos fracos e desanimados, ofereçamos também esta fraqueza ao Senhor. Ele soube transformar a cruz em salvação, saberá transformar nossa fragilidade em redenção para nós, nossas famílias, amigos e para toda a Igreja e a humanidade!

Irmã Maria Elizabeth da Trindade, ocd

Carmelo São José, Passos(MG)

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